Serei eu um bom candidato a ter um "Bouledogue de Alta Costura"?
Há algum tempo falava com uma criadora conceituada, que muito respeito e valorizo, quando algo que ela disse em determinado momento me fez pensar. Tanto pensei, que a minha posição, que julgava perfeitamente assente nesta matéria, ficou recheada de dúvidas.
Se por um lado não tenho dúvidas que as exposições de beleza são o único local onde um cão de raça pode ser avaliado, bem como o trabalho dos criadores, por outro lado constato que alguns exageros em termos da morfologia estão a colocar diversas raças em perigo. E o Buldogue francês, infelizmente, é uma delas.
É um facto que esta nossa raça de eleição sempre teve alguns problemas em matéria de saúde e de reprodução, sendo bem conhecida a necessidade de assistência a exemplares em algumas fases do processo reprodutivo. Mas quando chegamos a uma altura em que estas ajudas se tornam regra, chegando-se ao ponto em que os exemplares de topo (em termos da tipologia mais valorizada atualmente) não se conseguem reproduzir sem a ajuda de inseminação artificial e de cesariana, parece-me que se está a tomar um caminho perigoso.
Compreendo que foi a seleção feita pelos criadores ao longo dos anos que permitiu que a raça chegasse até nós, e estou grato por isso. Não tenho a menor dúvida que as exposições são necessárias, úteis e mesmo indispensáveis para a manutenção das raças e para a seleção dos melhores reprodutores. Mas quando ultimamente vou a uma exposição e vejo alguns exemplares, pergunto-me se o melhor caminho para a raça e a melhor seleção de reprodutor será um cão que respira com dificuldade, que não aguenta 5 minutos de brincadeira sob pena de ter um colapso e que nem sequer se consegue reproduzir sozinho! Pergunto-me também, ao ver alguns destes cães, se será verdadeiramente feliz um animal que passa a vida fechado numa “redoma” para não partir uma unha ou despentear um pelo, só saindo para ser colocado em cima de uma mesa a ser embelezado, ou para os 5 minutos de desfile em ring. Um animal que muitas vezes não é cão, mas um simples objeto, cuja função é apenas ganhar prémios e tornar-se um mero banco de sémen, ou uma incubadora de cachorros.
É indispensável participar em exposições, ter os nossos cães avaliados por pessoas competentes e reconhecidas como tal. Aliás, seria um erro pensarmos que a qualidade dos nossos cães, enquanto animais de raça, pode ser ditada pelo quanto gostamos deles, ou pelo sucesso que fazem entre curiosos na rua ou entre os nossos amigos. Mas será importante também que isso não obste a que eles continuem a ser nossos companheiros no dia a dia, enfim, que sejam os nossos cães. É que é exatamente isso que os nossos buldogues são, apesar de algumas pessoas parecerem esquecê-lo, ao quererem transformar os animais em meras joias de ornamentação, que ‘lapidam’ ao género de “estilistas” da Cinofilia! Gostos não se discutem, mas pela minha parte já percebi que não quero um Buldogue “Gucci” ou da “Fátima Lopes”. Pena que alguns animais e raças sofram por causa de ‘gostos’ de alguns, meros caprichos exacerbados da morfologia que em nada beneficiam a raça.
Felizmente nem todos os criadores que levam os animais a exposição os vêm desta forma, e ainda privilegiam a funcionalidade e a saúde, e não apenas alguns aspectos da morfologia . Ainda existem criadores que deixam os seus cães serem cães, que se sujem, que interajam com a sua ‘família humana’ e a acompanhem nas mais diversas situações da vida.
Face ao exposto, se eu procuro um animal de uma raça dita “de companhia” o que devo procurar num criador? A minha resposta é simples, devo procurar uma pessoa que ame a raça, que ame os seus cães e lhes dê toda a atenção e cuidado que merecem. Alguém que os tenha o mais próximo de si, por forma a interagir o mais possível com eles. Devo obviamente procurar que tenham exemplares que correspondam ao que estipula o estalão da raça, que satisfaçam o meu gosto pessoal e cujo temperamento esteja em conformidade com o que se pretende de uma raça cuja função primordial é a companhia.
Deixo-vos as questões, que me assombram de momento, e espero pelas vossas opiniões.